segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Celulares modernos arriscam cada vez mais privacidade e segurança

Há certas coisas que você não deseja compartilhar com desconhecidos. No meu caso, por exemplo, tive várias mensagens de texto muito pessoais enviadas pelo meu marido, durante os primeiros dias do nosso relacionamento.

Gravadas no cartão de meu celular --mas invisíveis no meu celular atual e, assim, esquecidas-- aqui estão elas agora, exibidas em toda a sua glória na tela do computador de um estranho.

Lucas Jackson/Reuters
Próxima geração de telefones celulares será usada para manter o controle de sua saúde, do dinheiro da loja e fazer transações de pequeno porte
Próxima geração de telefones celulares será usada para manter o controle de sua saúde, do dinheiro da loja e fazer transações

Em uma sala sem janelas de uma propriedade industrial em Tamworth, no Reino Unido, três analistas de celulares em camisas azuis, sentados em seus terminais, examinavam com cuidado o conteúdo do meu telefone e sorriam.

"Se serve de consolo, nós teríamos encontrado as mensagens, mesmo se você as tivesse excluído", diz um deles.

Mais embaraçoso ainda, mensagens de texto não são a única coisa com que tenho que me preocupar. "Isto é uma foto de seu escritório?", outro pergunta.

"E você comeu pizza na noite de segunda-feira? E por que você se desviou de sua rota ao trabalho para visitar este endereço em Camberwell, Londres, no sábado?"

Análise forense de celular

Eu estou na DiskLabs, uma empresa que trabalha com análise forense de celulares para a polícia do Reino Unido, e também para outras empresas privadas e indivíduos que desejam bisbilhotar empregados ou cônjuges suspeitos.

Fico espantada de saber da quantidade de informações pessoais que podem ser recolhidas de nossos aparelhos e cartões de memória utilizados.

Uma década atrás, as memórias de nossos telefones podiam basicamente lidar apenas com mensagens de texto e uma lista de contatos. Atualmente, os últimos smartphones (celulares inteligentes) lançados incorporam GPS, conectividade Wi-Fi e sensores de movimento.

Eles fazem automaticamente downloads de seus e-mails e compromissos do computador do escritório, e vêm com a capacidade de rastrear outros indivíduos em sua vizinhança imediata. E há muito mais para vir.

Entre outras coisas, você poderia usar a próxima geração de telefones para manter o controle de sua saúde, do dinheiro da loja e fazer transações de pequeno porte --algo que já está acontecendo no Ásia Oriental, por exemplo.

Phishing além dos PCs

Essas mudanças poderiam muito bem ser exploradas da mesma maneira que o e-mail e a internet podem ser usados para "phishing", por meio do qual se obtêm informações pessoais delicadas, como dados bancários.

De fato, algumas fraudes relacionadas a telefones celulares já estão surgindo, inclusive uma que usa celulares reprogramados para interceptar senhas de contas bancárias de outras pessoas on-line.

"Os celulares estão se tornando uma parte importante de nossas vidas", diz Andy Jones, chefe de pesquisa de segurança da informação da British Telecommunications. "Confiamos e dependemos cada vez mais deles. Com isso, o potencial para fraudes só aumenta."

Assim, quão seguros estão os dados que armazenamos em nossos telefones? Se estamos começando a usá-los como diários e carteiras combinados, o que acontece se os perdermos ou forem roubados? E se simplesmente os utilizarmos como parte do pagamento para comprar outro?

De acordo com a Aliança para Design e Tecnologia Contra o Crime do Governo do Reino Unido (DTAAC, na sigla em inglês), 80% dos cidadãos do país mantêm informações nos aparelhos que poderiam ser utilizadas para cometer fraudes --e cerca de 16% deixam seus dados bancários em seus telefones.

Eu pensava que o meu Nokia N96 iria me reservar apenas umas poucas surpresas, já que eu o estava usando por somente algumas semanas quando o submeti à Disklabs. No entanto, seus analistas provaram-me que estava errada.

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